segunda-feira, março 27, 2006

Camille Paglia sobre o politicamente correto

Camille Paglia deu uma entrevista à Folha de S. Paulo, publicada hoje, criticando a uniformidade liberal e a obsessão com o politicamente correto que ela identifica como regra no pensamento acadêmico hoje e falando do caso do reitor de Harvard expulso por sugerir que diferenças biológicas podem ser a causa de haver menos mulheres atuando em campos científicos. Copiei apenas trechos da entrevista porque não adianta dar o link, é só para assinantes. Quem puder leia toda.
Folha - O que você acha que Larry Summers estava tentando mudar em Harvard?
Camille Paglia - O politicamente correto entrincheirado, o elitismo arrogante e uma indiferença quanto à qualidade do curso de graduação.

Folha - Por que ele fracassou?
Paglia - Ele teve pouca habilidade diplomática. Ele cometeu fiasco após fiasco, recorreu a brados casuais e espontâneos em vez de apresentar posicionamentos públicos razoáveis para estimular uma política de reforma.
(...)
Folha - E o chamado episódio das "mulheres na ciência"?
Paglia - O Summers também errou no tratamento da questão de mulheres na ciência. Ele estava correto em levantar a questão biológica como fator de diferença entre os sexos, algo que as feministas atribuem unicamente à injustiça social. Mas ele estava ingenuamente despreparado para o bombardeio e se entregou a seus críticos numa rapidez vergonhosa, como um cão com o rabo entre as pernas.Poderia ter sido um momento importante para o feminismo americano, a introdução de biologia nos estudos de gênero. Hoje a palavra "natureza" sequer pode ser pronunciada. Essa área está cheia de propaganda, retórica e pensamento em grupo. Os alunos estão sofrendo lavagem cerebral. A maternidade é desprezada e os homens são vilanizados.
(...)
Folha - Há recompensa para pensamento independente no mundo acadêmico?
Paglia - Certamente não. O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado. Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país, e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70.

Folha - O que está acontecendo com o politicamente correto no mundo acadêmico?
Paglia - Muito pouca diversidade de opinião política é permitida entre os professores de humanidades nos Estados Unidos. Só há uma forma de pensar para uma variedade de assuntos, de geopolítica a gênero.
(...)
Folha - E como o feminismo se moldou pelo politicamente correto nos últimos anos?
Paglia - No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o estalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza.

Folha - E hoje? As mulheres não estão se focando demais no chauvinismo americano?
Paglia - As feministas foram marginalizadas nos Estados Unidos por causa dos excessos dos anos 80 e início dos 90. A visão é negativa, de estridência e extremismo. É uma situação desconcertante, mas é culpa das próprias líderes feministas. Elas ficaram obcecadas com aborto e assédio sexual e negligenciaram assuntos muito mais importantes que afetam as mulheres no mundo. Eu acredito em igualdade de oportunidade: os obstáculos para o avanço devem ser removidos, mas sem proteções especiais. (...)
Só um toque: eu já tinha visto esse assunto sendo discutido antes, de maneira mais interessante e mais profunda, na peça Oleanna, de David Mamet. Quem se interessar vá atrás que não vai se arrepender.

sexta-feira, março 24, 2006

Senta, arrogância! Boa menina!

Foto de Ragnar Axelsson

As pessoas deviam tratar melhor suas arrogâncias e parar de negá-las como se não existissem. Deveriam aprender a cuidar delas como cuidamos de cachorros. Como cães de guarda, mais especificamente. Deviam manter suas arrogâncias alimentadas, saudáveis, exercitadas e limpas. Deveriam também sempre levá-las para passear, mas (e isso é importante) nunca sem guia e coleira. Além do mais, arrogâncias devem ser bem treinadas para se manterem obedientes e calmas quando você mandar e apenas atacarem ao seu comando.

Porque no fundo, é isso que é a arrogância: um cão de guarda da nossa auto-estima, do nosso orgulho e por conseqüência, da nossa criatividade e liberdade. Rosna para qualquer pessoa que queira nos fazer sentir menos do que somos, ameaçadoramente, mostrando como somos fortes. Mas deve ser sempre bem controlada e cuidada, ou vai acabar matando o carteiro.

Você já cuidou da sua arrogância hoje? Vá passar um tempo com ela. Uma arrogância bem-cuidada e feliz é um amigo fiel, que além de lhe fazer companhia e nunca te deixar, defende ferozmente seu ego de ataques mesquinhos. Lembre-se apenas dos princípios da posse responsável e não deixe que ela simplesmente saia mordendo pessoas.

quarta-feira, março 15, 2006

Cachorro zen

sexta-feira, março 10, 2006

Alessandra Souza

O google, realmente, nos fornece algumas surpresas de vez em quando. E eu nem sabia que tinha uma xará por aí!!!

PS - Não abra se estiver no escritório. Quem avisa amigo é.

quarta-feira, março 08, 2006

Porque hoje é 8 de março


Eu gosto de ser mulher, mas não fui sempre assim. Quando eu comecei a ficar adolescente, o corpo mudando e as cobranças também, me revoltei com aquilo, uma alteração profunda sobre a qual ninguém tinha perguntado minha opinião. Não me agradavam muito aquelas mudanças.

Para cúmulo, rapidamente eu percebi que estava perdendo muito mais que meu corpo neutro de criança, quando começaram a me exigir que não fizesse isso ou aquilo porque devia me comportar como uma mulher. Como assim, cara-pálida? Quem é mulher aqui? Eu? Eu não, não tenho nada com isso, sou a mesma de antes, ó. A situação ficou ainda pior quando eu descobri (assim me pareceu) que para os meninos as regras mudavam muito pouco e que eles podiam continuar sentando de pernas abertas, gritando, rolando no chão, se vestindo de qualquer maneira, tirando a camisa. E a mim me mandavam ficar sentada de pernas fechadas. Por tudo isso, com uns 11 ou 12 anos eu estava de mal da minha feminilidade e queria ter nascido homem.

Hoje nós duas estamos de bem e eu entendi que fomos feitas uma para a outra. Até porque quando eu era recém-adolescente, não entendia que na verdade não só não perdia quase nada como ganhava um mundo inteiro. Ser mulher é uma coisa que me define tão completamente que, seu eu tivesse nascido homem, tenho certeza que seria um bicho completamente diferente. Não seria eu com um cromossomo Y, seria um ser humano que não tem nada a ver comigo. Apesar de tudo, acho que saí lucrando. Mesmo ainda ficando furiosa com algumas coisas que acham que eu tenho que aturar porque nasci com ovários, sei que posso muitas coisas porque sou mulher e estou em paz, não peço mais desculpas nem licença por isso. Nenhuma mulher deve pedir desculpas por sê-lo.

quinta-feira, março 02, 2006

Julgamentos

Estávamos esperando o manobrista trazer o carro, eu e a mulher, cada uma o seu, claro. Eu olho para ela, uns trinta e tantos anos, bronzeadíssima, saia branca marcando a calcinha, blusa rosa sem sutiã, maquiagem cintilante, bijoux dourada. Reviro os olhos e penso "Credo, que piranha!"

O carro dela chega. Antes de entrar, ela me dá uma olhadinha de lado. Páro para pensar na minha camisa de alfaiataria, na minha calça riscada, bota de salto quadrado, cabelo preso. Imagino que ela deve ter pensado "Credo, que sapata!". Entro no carro dando risada. Realmente, ninguém é melhor que ninguém. Muito menos eu.