sexta-feira, julho 22, 2005

Frágil

Girl with three heads - Edvard Munch

Curioso como os sentimentos pequenos, mesquinhos, infantis se apoderam da gente. Adoramos pensar que somos imunes a ele. Balela. Eles vão aparecer, uma hora ou outra, quando a gente menos espera e mais se considera a salvo.

Quando aparecem, vejo como sou frágil, à medida que todos os medos me invadem e me dão vontade de chorar e me fazem sofrer. Porque percebo que sou só uma menina, ainda me assusto e quero carinho, ainda tenho medo do escuro, ainda quero que segurem minha mão para que eu consiga ter coragem.

É muito difícil ser menina num mundo de mulheres. Ainda mais quando se tem forma, rosto e voz de mulher. Espera-se que você aja de acordo, sem saberem que a criança que todos têm dentro de si ainda é muito inquieta em você. Uma criança que tem medo do poder e mais medo ainda da impotência. Um terror frenético do abandono.

A aflição que dá a sensação de transitoriedade não vem só da noção da morte, apesar dessa ser suficiente para nos fazer perder a razão. É igualmente angustiante saber que a felicidade é um fiapo de nuvem, que pode se desmanchar rapidamente com uma ventania mais forte.

Eu não posso falar tudo isso em voz alta. Simplesmente não posso, o medo é paralisante demais. Então faço tudo que não quero e sinto que não posso fazer: sou convencional, correta, sem-graça, adorável e vazia. Fervendo por dentro, panela de pressão bem fechada, soltando um pouco de pressão através de teclas e tela. Alivio-me um pouco, para criar coragem, para tentar crer que há vida dentro de mim e eu não sou só susto, preconceito, insegurança.

1 Comments:

Blogger Gabriel said...

Somos todos pessoas maravilhosas e o mundo não sabe da nossa existência, essa é a verdade. O sonho é tudo o que resta.

5:21 PM  

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