sexta-feira, outubro 26, 2007

Damas


Damas podem ser de fato (vá lá) uma imagem de um tempo patriarcal, um conceito anacrônico e machista. Uma coisa de homens que gostam de suas mulheres controladas, delicadas, pudicas, dependentes. Mas pensemos por outro lado. O universo dessas mulheres, as mulheres que tinham suas mãos beijadas cotidianamente, podia ser pequeno, mas dentro dele elas reinavam absolutas, com uma autoridade que nenhum homem se atrevia a questionar. Imagino que poucas mulheres hoje têm consciência do próprio valor da mesma maneira que essas criaturas de chapéus e luvas. Essas tais submissas, os tais pássaros em gaiolas douradas, tinham imensa dignidade e orgulho, de um jeito que uma leitora de Nova nunca vai entender, porque está ocupada demais surtando por um telefonema não recebido e por 0,5cm a mais na medida do quadril. Uma dama nunca perderia o sono por isso, porque sempre exigiria ser tratada como uma dama e ficaria muito indignada se não fosse. Na verdade nem precisaria exigir nada, era o mínimo. Até porque o reconhecimento é imediato, está na cara, no porte, na voz que uma mulher é uma dama – ou não. Hoje isso já não existe, a maior parte das mulheres desmerece o título quando trata respeito como bananice e elegância como moralismo.

12 Comments:

Blogger M said...

E pensar que foi essa geração de mulheres da belle époque que começou o feminismo, com o movimento sufragista. As das classes priviligiadas, claro.

Faz-me lembrar uma coisa que uma vez que me contaram: que a melhor maneira de iniciar uma rebelião dentro duma cadeia é melhorar as condições de vida dos prisioneiros. Umas sobremesas um pouco melhores aqui, uns priviliégiozinhos acolá e num instante estala o motim. As pessoas deixam de se contentar com o que tem e querem cada vez mais. Quando as pessoas são oprimidas a sério, sem facilidades, limitam-se a aceitar a sua condição. Que isso nos sirva de lição. ;)

7:22 PM  
Blogger Karin Kollnberger said...

Alessandra, estou com você! Eu quero mais é ser mimada e paparicada de mil e uma maneiras e não ter de pegar fila no banco ou fazer qualquer uma dessas coisas mundanas chatíssimas! O Nelson Rodrigues disse, mulher que trabalha acaba amargurada, ressentida... Eu não chegaria tão longe, mas certamente as mulheres não podem só pensar em trabalho, trabalho, trabalho. Pelo menos de vez em quando precisamos nos sentir como em uma gaiola dourada, basta deixarmos a portinha sempre aberta.

Beijo!

12:20 AM  
Blogger M. Ulisses Adirt said...

Nem sei pq, mas me lembrei tanto da Jane Austen... ;-)

6:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

Se não fosse estuprada no leito conjugal, traída com amante vivendo em frente da própria casa, morrido em um parto pseudo natural de um filho atrás do outro, morrendo aos trinta anos e velha cocoroca aos quarenta,analfabeta para não saber que sua vida era uma escravidão, dependente economciamente de um homem,trabalhando e graça para poder comer, dormir, vestir e ainda levando uma surra nos recôndidos do lar.Considerada incapaz junto com os menores e os loucos de todos os gêneros ou morrendo de fome com uma carrada de filhos porque o marido foi comprar cigarro lá na esquina e não voltou e para trabalhar tinha que ser com a autorização do marido e só entrando na justiça para pedir o suprimento do consentimento ao juiz.
Honra, dignidade e damicidade não tem nada a ver com costumes mas com caráter.Graças a Deus milhões e milhões de mulheres são dignas e honradas tanto quanto estas mulheres porque naquela época também tinham pseudas vagabundas que eram colocadas para fora de casa, na rua da amargura, sem dó nem piedade,enquanto os homens pintavam e bordavam.Cuidado com o contra ataque machista.Começa com este discurso equivocado.As moças de hoje, livres e em pleno exercício do livre arbítrio nem fazem idéia do que era, mesmo há cinquenta anos atrás.Muitas mulheres morreram pela igualdade.Respeite-as pelo menos.Foram soldados mortos pela simples vontade de querer respirar.

10:05 AM  
Blogger Paulo Tiago said...

Acho que nunca mais vou dizer "primeiro as damas", mas sim "as mulheres". Não tinha parado pra pensar nisso, e foi na lata.

1:55 PM  
Blogger Marcos Pontes said...

A Karin tocou no trabalho, mas esse foi apenas o mot para a dita mulher moderna tornar-se igual ao homem. Via de regra essa igualdade ajudou a acabar com a dama, transformando-a num homem de saias que atpe nas cafajestagens resolveram se igualar. Os cavalheiros, como você bem disse, foram jogado nos limbo dos bobos e descartados. Coisas da vida moderna...

11:22 PM  
Blogger Lan said...

Eu fico até contente quando leio umas besteiras aqui e ali, Luciano Huck no jornal e afins, porque isso dá a oportunidade de gente esclarecida se manifestar, como o magui ai de cima, dá até vergonha alheia de quem escreveu o texto que originou tal resposta...

12:44 PM  
Blogger João said...

Mais uma vez, concordo com seu ponto de vista.
Beijos

10:45 PM  
Anonymous Anônimo said...

Eu acho que as vezes, queria ser só uma mulher que se ocupasse de ser uma dama. É muito pesado para as mulheres de hoje serem tudo o que seu tempo exige delas. Sim, eu queria ser Amélia de vez em quando, ter alguém a me beijar as mãos enquanto as vestisse com luvas de seda. O feminismo embrutesceu a mulher. embora seja fácil para nós que podemos tudo, dizer isso hoje, em pleno 2007...avalie só o que há por trás de todo esse "controle", não sei...

11:29 PM  
Anonymous Anônimo said...

E viva as damas! Vida longa!

8:06 PM  
Blogger Unknown said...

Besteira!

1:11 PM  
Blogger R. Russel said...

Que incrível esse post...! Achei via formspring, que aliás é muito bom.

2:28 AM  

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