segunda-feira, julho 17, 2006

Julgamento

In my younger and more vulnerable years my father gave me some advice that I've been turning over in my mind ever since. "Whenever you feel like criticizing anyone," he told me, "just remember that all the people in this world haven't had the advantages that you've had."


F. Scott Fitzgerald, The Great Gatsby

quarta-feira, julho 05, 2006

Bonsai



Bonsai, como quase todo mundo sabe, são árvores que são cultivadas em bandejas ou potes para se manterem sempre pequenas. Elas podem viver muitos anos se bem cuidadas e quanto mais velhas, mais valiosas. Aliás, no caso do bonsai, não é suficiente que ele seja velho: tem que parecer velho. Quanto mais centenário o seu aspecto, quanto mais cheio de nós, de rachaduras, de raízes grossas acima da superfície e galhos vergados pelo próprio peso, mais bonito e precioso o bonsai será.

Decidi que vou tentar usar essa mesma filosofia a respeito do meu próprio corpo, conforme eu envelhecer. Ao invés de pensar a coisa toda como uma decadência, vou pensar como um aperfeiçoamento. De fato vou perder mobilidade, vigor, agilidade, entre outras coisas que hoje são naturais para mim. Mas a arvorezinha também perde a flexibilidade, fica mais rígida, menos adaptável.

Vou tratar de curtir cada ruga que aparecer, cada mudança de forma e de cor que eu notar. Vou me enxergar como uma obra do tempo. O tempo estará indiferente aos meus planos ou desejos, isso por um lado é cruel. Mas ele em troca vai esculpir meu corpo para torná-lo cada vez mais complexo, mais cheio de detalhes e entalhes, vai me obrigar a reduzir meus movimentos excessivos e desgastantes ao mínimo, vai tornar meu ritmo mais lento e meus sentidos mais suaves. Assim, cada movimento meu será cuidadoso e mínimo, como a dança mais sutil e mais perfeita, ao mesmo tempo que as rugas na minha pele desenharão uma renda finíssima sobre os contornos agora muito suaves e delicados do meu corpo envelhecido. Pretendo envelhecer me vendo assim, como escultura do tempo, não vítima dele.