sexta-feira, julho 29, 2005

A todos os pais

Um poema lindo que encontrei por aí. Deveriam entregar a todos os pais na saída da maternidade, com recomendações de que ele seja relido pelo menos uma vez por semana, até a criança fazer 18 anos.

Vossos Filhos

Gibran Kalil Gibran

Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho. Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.

segunda-feira, julho 25, 2005

Fim de semana

Desenho de Giovana Rivelli Cardoso Romagnoli

Há dois aspectos infalíveis em se rever lugares que têm conexão com a nossa infância e aonde não íamos há muito tempo:

1 – Tudo parece um pouco menor. Conseqüência natural do crescimento, claro, mas provoca uma sensação de estranhamento muito curiosa.

2 – As pequenas e grandes mudanças que percebemos nos provocam uma inevitável tristeza, uma ligeira saudade das coisas que não voltam mais, inclusive a já dita infância. Que seja uma bobagem, uma parede pintada de uma cor diferente, uma placa trocada, uma árvore que caiu ou cresceu muito, vai dar uma sensação de perda.

No meu caso, a tudo isso se somou um espírito levemente visionário, ansioso por guardar o que sobrou da lembrança na realidade e completar isso com as peças do futuro e criar novas lembranças. Ainda assim, visitar um pedacinho da minha história me fez um bem enorme...

sexta-feira, julho 22, 2005

Frágil

Girl with three heads - Edvard Munch

Curioso como os sentimentos pequenos, mesquinhos, infantis se apoderam da gente. Adoramos pensar que somos imunes a ele. Balela. Eles vão aparecer, uma hora ou outra, quando a gente menos espera e mais se considera a salvo.

Quando aparecem, vejo como sou frágil, à medida que todos os medos me invadem e me dão vontade de chorar e me fazem sofrer. Porque percebo que sou só uma menina, ainda me assusto e quero carinho, ainda tenho medo do escuro, ainda quero que segurem minha mão para que eu consiga ter coragem.

É muito difícil ser menina num mundo de mulheres. Ainda mais quando se tem forma, rosto e voz de mulher. Espera-se que você aja de acordo, sem saberem que a criança que todos têm dentro de si ainda é muito inquieta em você. Uma criança que tem medo do poder e mais medo ainda da impotência. Um terror frenético do abandono.

A aflição que dá a sensação de transitoriedade não vem só da noção da morte, apesar dessa ser suficiente para nos fazer perder a razão. É igualmente angustiante saber que a felicidade é um fiapo de nuvem, que pode se desmanchar rapidamente com uma ventania mais forte.

Eu não posso falar tudo isso em voz alta. Simplesmente não posso, o medo é paralisante demais. Então faço tudo que não quero e sinto que não posso fazer: sou convencional, correta, sem-graça, adorável e vazia. Fervendo por dentro, panela de pressão bem fechada, soltando um pouco de pressão através de teclas e tela. Alivio-me um pouco, para criar coragem, para tentar crer que há vida dentro de mim e eu não sou só susto, preconceito, insegurança.

quarta-feira, julho 13, 2005

Alta Sociedade

Essa eu precisava comentar.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u111015.shtml

Perto de todos os escândalos públicos que estão sendo investigados e amplamente noticiados e discutidos, esse com certeza não é o maior, nem o mais surpreendente. Mas para grande parte dos brasileiros, provavelmente é o mais engraçado. Fico só imaginando quantas pessoas, humanamente, deram risadinhas de prazer imaginando a loira, perfumada e dermatologicamente impecável Eliana Tranchesi passando a noite na Superintendência da Polícia Federal. É a vingança dos sem-grife.

Skirting The Issue - Gil Elvgreen, 1952

Eu, também humanamente, não consegui deixar de me divertir um pouco, mea culpa. Só que também é deprimente perceber que a cultura da Lei de Gerson está perfeitamente democratizada, todas as classes sociais e níveis de educação a têm como parte do jogo. Porque se até mesmo a Daslu, que com certeza é muito, mas muito lucrativa, e sua proprietária já milionária de berço, resolvem levar vantagem em tudo, isso é um sinal que a coisa já está virando esporte nacional (aliás, até o esporte nacional "oficial" mostra que também não dispensa participar).

Não estou aqui jogando pedras na Daslu simplesmente por existir, como muita gente fez na sua reinauguração. Ela é o sintoma, não a doença. Por si só (tirando a parte noticiada hoje de manhã), é apenas uma empresa bem sucedida, que atende uma demanda e persegue os objetivos de qualquer empresa, que são dar lucro, se manter no mercado e crescer. Nenhuma empresa tem obrigação de fazer ações comunitárias ou coisa assim. As que o fazem, o fazem porque isso também é bom para os negócios.

A carga tributária brasileira é pesada? A burocracia é excessiva? Sem dúvida que sim. Mas não é de se esperar que uma empresa grande, lucrativa, que vende artigos de luxo e tem uma enorme visibilidade sonegasse impostos. Com certeza ela sobreviveria a eles e continuaria no azul. Se comprovadas as denúncias, vai ficar muito, muito feio. Fico só imaginando a cara que farão os (e principalmente "as") endinheirados freqüentadores se as denúncias se provarem verdadeiras. O ambiente nas festas colunáveis vai ficar uó.

sexta-feira, julho 01, 2005

Lugares-comuns


O orgulho é inimigo do aprendizado

O dinheiro é uma coisa sem importância. Já a falta do dinheiro é muito importante.

Todo ser humano é preconceituoso, em algum grau, em relação a alguma coisa.

As pessoas pensam a infância como uma época feliz. Só que a infância, mesmo a mais plena e feliz, é tão sofrida quanto o resto de nossas vidas. Nós apenas nos esquecemos dos detalhes.

O humilde tem, quase sempre, um imenso orgulho da sua própria humildade.

No fundo, os pais esperam que os filhos se tornem versões melhoradas deles mesmos.

É monstruoso ensinar a uma menina que ser mulher é negar a própria feminilidade.