quinta-feira, agosto 25, 2005

Palavrões


Certas palavras são horrorosas. Feias mesmo. Mais feias que o Sam (v. post de 19/08), tão horríveis de escutar quanto o último sucesso do Latino. São tão feias que até hoje não entendo como a seleção natural lingüística não as eliminou em prol de sinônimos mais sonoros.

Claro que não estou falando de significados, porque aí nenhuma palavra é feia, todas elas são apenas signos. Estou falando do ponto de vista estético, sonoro mesmo. Há palavras que simplesmente doem no ouvido. Soam mal, sei lá.

Eu assumo que tenho uma implicância antiga com certas palavras. Não gosto de usar, falando ou escrevendo. Só uso quando não tenho opção. “Desopilar”, por exemplo, detesto. Nem sei se escrevi certo, nem sei exatamente o que significa, nem sei se existe mesmo. Sei que ouço e me arrepio, no mau sentido. “Prurido” é outra. Até uso às vezes, mas também acho feia. Ela só não foi banida do meu vocabulário porque é muito expressiva. Não consigo imaginar melhor palavra para o conceito do que “prurido”.

Mas minhas grandes implicâncias, as palavras que eu realmente detesto, são duas: fornicação e clitóris. Curiosamente e totalmente por coincidência, são palavras ligadas a sexo. Claro que meu problema com elas não vem dessa característica.

Quem achar estranho que diga em voz alta, separando as sílabas: for-ni-ca-ção. Não é horroroso? Eu acho que ninguém no mundo deveria fornicar, é feio demais. Se bater tesão, então façam amor, trepem, dêem umazinha, copulem, fodam, até cruzar pode. Mas por favor, fornicar não.

O segundo caso é mais problemático. Não existem substitutos satisfatórios para clitóris (para você sentir a extensão da feiúra, repita exercício da palavra anterior). O que é compreensível, já que ele é um discriminado histórico. Os homens demoraram séculos para encontrar o dito-cujo e mais ou menos o mesmo tempo para descobrir para que serve. Quando finalmente conseguiram, deram para ele esse nome horroroso, anti-sexy, uó. Dupla discriminação. O que mais me incomoda no caso é a falta de sinônimos populares. Poxa, pense em quantos equivalentes vulgares você conhece para pênis (outra palavra pavorosa)? Para (eeeeewww....) fornicar? Os falantes de língua inglesa ainda tem clit, um diminutivo que fica bem mais bonitinho, mas como nós, que falamos português, podemos nos referir a essa parte da anatomia feminina sem se sentir em uma consulta ginecológica? O único substituto que eu conheço é grelo, que também não me agrada muito.

Enfim, se algum passante conseguir lembrar de alguma palavra mais legal para (argh) clitóris, por gentileza avisar essa não-blogueira, deixando sua pequena contribuição para um mundo mais sonoro nos comentários.

terça-feira, agosto 23, 2005

Não-blog sob ataque

Mais essa agora. A seção de comentários do meu último post foi atacada por spammers. De repente um tal de Anonymous resolveu me oferecer links para blogs sobre produtos anti-idade.
Alguém sabe como me livro deles? Ou pelo menos como eu apago esses comments falsificados?

sexta-feira, agosto 19, 2005

Todo cachorro é lindo?

Tá, é meio bobo mesmo. Mas quando eu vi isso, simplesmente não resisti.

Existe uma comunidade do Orkut chamada Todo cachorro é lindo. A premissa é legal, mas com certeza o fundador não conheceu o Sam, tricampeão do concurso de cachorro mais feio do mundo, que acontece todo ano na Sonoma-Marin Fair, nos EUA.

O feioso é da raça Cristado Chinês sem pêlos e tem avançados 14 anos. Eis o fofucho:


A dona do Sam, Susie Lockheed, é louca por ele. Compra água mineral, só dá comida caseira e deixa ele dormir com ela. Ela também jura que adora dar beijinhos e fazer carinho da pele cheia de verrugas e pintas do Sam, para total horror dos seus amigos, que acham o cachorro um cruzamento de rascunho do mapa do inferno com filhote de cruz-credo (quem pode culpá-los?). Sam é tão feio que até os juízes recuaram horrorizados quando ele foi colocado na frente deles para avaliação.

Nos comentários do blog Pitpundit (minha fonte, junto com o Wired News de 16/08): tomara que o Sam tenha sido castrado!!

Pitpundit - http://www.resourceinvestor.com/pebble.asp?relid=10958

Wired News - http://www.wired.com/news/furthermore/

sexta-feira, agosto 12, 2005

O dia de não-fúria

Acabo de parar de trabalhar para escrever. No meio do que estava fazendo, uma espécie de checagem, coisa rotineira, burocrática e chata, mas que requer bastante atenção, me deu um tédio enorme. Me veio na cabeça, agora mesmo: “porque diabos eu tenho que me importar em garantir que um empresa enorme e lucrativa não dê uma leve sacaneada, de alguns poucos milhares de reais, em um outra empresa ainda maior e mais lucrativa? Porque eu tenho que passar preciosas horas do meu dia (que aliás está lindo, céu azul e limpo e um ventinho frio, do jeito que eu mais gosto) pensando em miudezas corporativas.

A resposta é fácil. Porque sou paga para isso, razoavelmente bem paga até, considerando a média que se paga para estagiários, mais ainda se comparar com a média de estagiários de comunicação, que freqüentemente não ganham nem o almoço. Faço isso também porque eu sei que o nome da enorme e lucrativa empresa vai ficar lindo no meu currículo, ainda curto; vai me dar uns contatos interessantes e um pouco mais de savoir faire profissional, coisa que hoje em dia nunca é demais.

Mas também tem a resposta difícil. A mais profunda. Que diz que eu estou aqui, me importando com uma parcela ínfima do dinheiro dos outros porque não tenho coragem de ir fazer outra coisa. Não tenho peito para, idealisticamente, mandar a grande empresa à merda e ir fazer o que eu gostaria, apesar de eu não ter muita certeza do que isto seria.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Sem Título

Algumas coisas podiam mudar. Só algumas coisas.

Algumas coisas podiam mudar... só algumas coisas...

Quais?

A peça me deixou na cabeça a frase. A pergunta foi conseqüência. Porque se eu desejo que algumas coisas mudem, só algumas coisas, será que tenho direito de escolher quais? Ou será que tenho que aceitar as mudanças que o destino me impuser, já que eu não batalhei nenhuma mudança, apenas chamei por elas?

E se vierem todas as mudanças erradas? E se ao invés de achar um emprego melhor, melhorar a relação com a minha mãe, achar um apartamento mais legal e fazer amigos que me tirem da frente do computador, onde mora meu duplo, eu perca o emprego, minha mãe morra, apareça uma infiltração no banheiro bem quando o aluguel estiver dois meses atrasado e eu fique tão dependente do duplo a ponto de perguntar se não sou eu quem é virtual?

Mudanças são assustadoras. Porém a repetição eterna das coisas tira as referências das nossas vidas, que, sem eventos que identifiquem os momentos distintos, parece a eterna projeção do mesmo filme, o filme do nosso dia, sempre igual, sempre igual. As únicas referências da passagem do tempo se tornam a marca da nossa cadeira na parede, cada dia mais funda, e as pequenas rugas que vão lenta, vagarosamente, brotando do interior da pele, nos cantos dos olhos.

Olhando por esse lado, a idéia da mudança parece menos assustadora.