sexta-feira, outubro 26, 2007

Damas


Damas podem ser de fato (vá lá) uma imagem de um tempo patriarcal, um conceito anacrônico e machista. Uma coisa de homens que gostam de suas mulheres controladas, delicadas, pudicas, dependentes. Mas pensemos por outro lado. O universo dessas mulheres, as mulheres que tinham suas mãos beijadas cotidianamente, podia ser pequeno, mas dentro dele elas reinavam absolutas, com uma autoridade que nenhum homem se atrevia a questionar. Imagino que poucas mulheres hoje têm consciência do próprio valor da mesma maneira que essas criaturas de chapéus e luvas. Essas tais submissas, os tais pássaros em gaiolas douradas, tinham imensa dignidade e orgulho, de um jeito que uma leitora de Nova nunca vai entender, porque está ocupada demais surtando por um telefonema não recebido e por 0,5cm a mais na medida do quadril. Uma dama nunca perderia o sono por isso, porque sempre exigiria ser tratada como uma dama e ficaria muito indignada se não fosse. Na verdade nem precisaria exigir nada, era o mínimo. Até porque o reconhecimento é imediato, está na cara, no porte, na voz que uma mulher é uma dama – ou não. Hoje isso já não existe, a maior parte das mulheres desmerece o título quando trata respeito como bananice e elegância como moralismo.

domingo, outubro 14, 2007

Gula é um tipo de luxúria

Imaginem só, um bordel para gourmets: várias mulheres lindas, que cozinham na frente dos clientes, o que eles quiserem. O homem chega e é abordado por uma cafetina gordinha, com discretas cicatrizes de queimaduras nos pulsos, do tempo em que ela era uma jovem sexy imbatível nas frituras. Ela pega o cliente pelo braço e apresenta as meninas;
“Essa ruiva é a Verônica. A mãe era doceira e ensinou tu-do para ela”. A mulher dá uma piscada para o cliente e abaixa a voz. “Minha melhor menina para sobremesas, a especialidade dela é” ela fala mais baixo ainda, quase sussurra “chocolate”. E o cliente arregala os olhos com desejo para a Verônica, que joga o cabelo ruivo e sorri.
Mesma coisa conforme as outras vão sendo apresentadas. Júlia, loira magrinha com sotaque sulista que grelha carnes como ninguém. Vanessa, morena baixinha que é quase reencarnação de Dona Flor, faz uma moqueca de babar. Marie-Élise, francesa com pernas longas e narizinho arrebitado, caríssima, formada na Cordon Bleu. Mariana, uma morena alta de cabelos cacheados, com corpo de passista, que deixa qualquer homem louco com uma combinação de feijoada e quitutes de boteco. Todas elas cozinham e servem a comida usando roupas sexys, aventais curtinhos, saltos - a menos que o cliente prefira que não. Carolina, morena-clara especializada em massas, tinha um que pedia que ela usasse lenço na cabeça, vestido de algodão e chinelo. E depois ela tinha que mandar ele comer, ficando do lado e insistindo até a última migalha.

Todo tipo de tara, sim. “Eu quero duas meninas, para cozinharem juntas e depois darem comida uma na boca da outra, pode ser?” Às vezes alguém solicita uma barwoman, decotada, e ficam pedindo para ela sacudir bem a coqueteleira - especialidade da Suzana, uma mulata alta que realmente, realmente sabe fazer um dry martini.

Os clientes fazem a propaganda para os amigos, discretamente. “Cara, você não imagina! Ela tirou o risoto do fogo e colocou um fio de azeite trufado, achei que eu fosse enlouquecer”. Não existe o risco de se pegar uma doença venérea, mas ai se as esposas descobrem em que nível está o colesterol do infiel! Alguns homens sentem culpa, tentam se justificar durante o ato, molho escorrendo do queixo:

“Sabe, minha mulher não me satisfaz mais. Antes de casarmos, você precisava ver os pavês que ela levava na minha casa! E ainda nos primeiros anos, me fazia cada sanduíche!! Mas de uns tempos para cá... ela vive cansada e quando cozinha, faz umas saladinhas quase sem molho, peito de frango grelhado... diz que nós não somos mais crianças para sair comendo essas coisas pesadas mas puxa... eu tenho necessidades!! Eu preciso de coisas com manteiga de verdade! Preciso de queijo, entende?”

Sempre tem um cliente que olha indeciso para todas as moças, fica meio sem-graça, e cochicha tímido no ouvido da cafetina. Ela sorri do alto da sua experiência e chama:

“Daniela!”

E aparece uma morena carnuda que é a cara da Nigella Lawson. Antes mesmo que alguém diga alguma coisa, a anfitriã tranqüiliza, dando uma cotovelada cúmplice: “Você não vai se arrepender. Ela coloca creme de leite em tudo!”. Nesse ponto, o homem treme de antecipação.
(Esse post é dedicado ao Branco e ao amigo que primeiro ouviu essa idéia, enquanto nós estávamos - claro - comendo.)

terça-feira, outubro 09, 2007

Gracinha

Diálogo real entre uma amiga minha e o filho de 5 anos:

- Oi filho, sou eu. O papai está acordado?
- Peraí mãe, eu vou chamar ele.
- Não precisa, Mateus. Só me diz se ele está acordado.
- Eu vou chamar, eu vou chamar!
- Calma filho, conversa comigo...
- MAS MÃE, TÁ COMEÇANDO O BOB ESPONJA, MÃE!!
- ...