Compaixão é passé
Eu? Eu estou ótimo, saiam daqui!!
Uma das poucas coisas realmente boas que o cristianismo fez pela humanidade foi colocar a compaixão na ordem do dia, como uma virtude a ser praticada sempre, condição necessária para o paraíso. A piedade não era mais uma fraqueza de quem não era suficientemente bravo para vingar uma ofensa ou tomar algo para si.
Hoje em dia, com várias virtudes cristãs saindo de moda (e boa parte delas já vai tarde), as pessoas simplesmente decidiram que sentir pena é uma forma de condescendência, uma ofensa terrível. Não, não podemos ter compaixão, temos que dar tapinhas nas costas da pessoa e dizer que “a vida continua, seja forte, levanta sacode a poeira e dá a volta por cima, é isso aí!” e perguntar quando ela vai devolver aqueles vinte reais que emprestamos na semana passada.
Provavelmente isso acontece porque se considera tão antinatural uma pessoa estar triste, derrotada, com problemas ou sofrendo. Então a pessoa nessa situação é um leproso, que deve ser evitado com um leve constrangimento e que deve carregar um sininho, na forma de uma raiva mal-disfarçada e um orgulho falso, para avisar aos outros da sua infeliz presença. Afinal, alguém pode acabar se contagiando, ficando com dó, compartilhando a tristeza daquela pessoa, credo.
A própria palavra compaixão, na sua origem, significa “sentir junto”. Na minha opinião, é isso que nós devemos às pessoas que amamos: sentir as coisas junto com elas, boas ou ruins. Se ficamos felizes porque elas estão felizes, nada mais natural que a infelicidade dessas pessoas nos faça sofrer também. E isso é bom! Isso é um sinal de humanidade, quem é incapaz de sentir pena não é gente.
Nunca vou dizer que não sintam pena de mim. Se eu estiver na merda, infeliz, sofrendo, podem sentir pena. Por favor, sintam pena. Só vai me fazer bem saber que alguém vai sofrer um pouco porque se importa.