Camille Paglia sobre o politicamente correto
Camille Paglia deu uma entrevista à Folha de S. Paulo, publicada hoje, criticando a uniformidade liberal e a obsessão com o politicamente correto que ela identifica como regra no pensamento acadêmico hoje e falando do caso do reitor de Harvard expulso por sugerir que diferenças biológicas podem ser a causa de haver menos mulheres atuando em campos científicos. Copiei apenas trechos da entrevista porque não adianta dar o link, é só para assinantes. Quem puder leia toda.
Folha - O que você acha que Larry Summers estava tentando mudar em Harvard?
Camille Paglia - O politicamente correto entrincheirado, o elitismo arrogante e uma indiferença quanto à qualidade do curso de graduação.
Folha - Por que ele fracassou?
Paglia - Ele teve pouca habilidade diplomática. Ele cometeu fiasco após fiasco, recorreu a brados casuais e espontâneos em vez de apresentar posicionamentos públicos razoáveis para estimular uma política de reforma.
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Folha - E o chamado episódio das "mulheres na ciência"?
Paglia - O Summers também errou no tratamento da questão de mulheres na ciência. Ele estava correto em levantar a questão biológica como fator de diferença entre os sexos, algo que as feministas atribuem unicamente à injustiça social. Mas ele estava ingenuamente despreparado para o bombardeio e se entregou a seus críticos numa rapidez vergonhosa, como um cão com o rabo entre as pernas.Poderia ter sido um momento importante para o feminismo americano, a introdução de biologia nos estudos de gênero. Hoje a palavra "natureza" sequer pode ser pronunciada. Essa área está cheia de propaganda, retórica e pensamento em grupo. Os alunos estão sofrendo lavagem cerebral. A maternidade é desprezada e os homens são vilanizados.
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Folha - Há recompensa para pensamento independente no mundo acadêmico?
Paglia - Certamente não. O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado. Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país, e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70.
Folha - O que está acontecendo com o politicamente correto no mundo acadêmico?
Paglia - Muito pouca diversidade de opinião política é permitida entre os professores de humanidades nos Estados Unidos. Só há uma forma de pensar para uma variedade de assuntos, de geopolítica a gênero.
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Folha - E como o feminismo se moldou pelo politicamente correto nos últimos anos?
Paglia - No começo dos anos 90 eu declarei guerra contra o estalinismo do politicamente correto no establishment feminista. Isso causou controvérsia, especialmente minha defesa da pornografia e das revistas de moda. Mas, graças à Madonna, minha ala do feminismo ganhou a batalha. Ela influenciou uma geração de mulheres que abraçou novamente o sexo e a beleza.
Folha - E hoje? As mulheres não estão se focando demais no chauvinismo americano?
Paglia - As feministas foram marginalizadas nos Estados Unidos por causa dos excessos dos anos 80 e início dos 90. A visão é negativa, de estridência e extremismo. É uma situação desconcertante, mas é culpa das próprias líderes feministas. Elas ficaram obcecadas com aborto e assédio sexual e negligenciaram assuntos muito mais importantes que afetam as mulheres no mundo. Eu acredito em igualdade de oportunidade: os obstáculos para o avanço devem ser removidos, mas sem proteções especiais. (...)
Só um toque: eu já tinha visto esse assunto sendo discutido antes, de maneira mais interessante e mais profunda, na peça Oleanna, de David Mamet. Quem se interessar vá atrás que não vai se arrepender.