Maternidade
Eu tenho medo, muito medo, de ter um filho. Agora ou em qualquer tempo. Não é medo da gravidez. Não é medo do parto. Nem medo da responsabilidade, que é suficiente para fazer a pessoa correr para se esconder na cama e cobrir a cabeça. Se fosse só isso, eu já começava a escolher o nome dos herdeiros.
Eu tenho medo é de virar Mãe. Não “mãe” apenas, Mãe. Mãe 24 horas, sete dias por semana, mãe tempo integral, sem espaço para a pessoa que não é mãe.
Eu tenho medo é de virar Mãe. Não “mãe” apenas, Mãe. Mãe 24 horas, sete dias por semana, mãe tempo integral, sem espaço para a pessoa que não é mãe.
Eu trabalho em um escritório grandinho, com muitas mulheres de várias idades e histórias. Eu olho a mesa das solteiras e sem filhos e vejo fotos de amigos, de namorados, de cachorros, de família. Fotos tiradas na balada, em viagens, comemorações ou tiradas apenas porque sim, em momentos de bobeira. Vejo lembranças de shows, de momentos legais, imagens de bandas preferidas. Aí olho as mesas das mães. E vejo fotos de filhos. Só. Às vezes um marido, mas quase sempre são crianças apenas. E uma imagem de santo.
Eu não quero ficar assim. Sei que posso não ficar, sei que esse medo já é uma pequena defesa, mas não consigo evitar. Lembro de ter visto uma vez uma piada maldosa dizendo que toda mulher que dá a luz imediatamente perde uns 10 pontos de QI. Essa piada me dá arrepios. Ainda mais quando eu vejo mulheres com filhos pequenos conversando. Adivinha o assunto preferido?
Posso algum dia engolir tudo isso. Não estou cuspindo para cima, não sei se algum dia eu venço esse medo e produzo um pirralhinho que eu vou amar mais que tudo. Mas hoje, eu só consigo ver as infinitas fotos de bebês. E tremer.