quinta-feira, julho 26, 2007

Cavalheirismo

Eu lamento, lamento de verdade o fim do cavalheirismo e das boas-maneiras de um modo geral. As boas-maneiras, ok, essas nem estão tão extintas assim e a gente ainda encontra um ou outro gesto gentil por aí. Mas cavalheirismo, ixe, esse está raríssimo, e é uma pena.

Não dá para negar, foi o feminismo que tirou o cavalheirismo da ordem do dia. E essa maldita mania de que tudo tem que ser “informal” (o que há de tão errado com um pouco de formalidade, hein?). No caso do feminismo, prefiro pensar que foi um engano, um caso de bebê jogado fora com a água do banho. Afinal, direitos iguais, respeito, opções, tudo isso tá muito bom, muito bonito, é isso mesmo que a gente quer; que eu quero. Só que isso não significa ignorar umas diferenças básicas, como o fato de que, em geral, homens têm um bom tanto a mais de força física que as mulheres. E é nesse dado, entre outras coisas, que se baseia o cavalheirismo.

Porque vejam, o cavalheirismo quando feito do jeito certo não é um ato de condescendência, como algumas feministas do tipo chato parecem acreditar. Não, cavalheirismo de verdade é um ato civilizado e respeitoso, exatamente o contrário de infantilizar e tratar com superioridade. E numa situação em que esteja rolando uma paquerinha, isso vale em dobro. Afinal, se um homem não tratar uma mulher com delicadeza e educação nem mesmo enquanto está tentando levá-la para cama, imaginem como vai agir depois que conseguir.

Quando um homem é cavalheiro com uma mulher, com gestos pequenos como segurar a porta, descer uma escada na frente ou andar do lado de fora da calçada (um homem fez isso para mim outro dia, fiquei encantada), ele está basicamente dizendo “olha, nós dois sabemos que eu sou mais forte que você e poderia te machucar se quisesse, mas sou bem mais civilizado do que isso e tenho toda a intenção de te respeitar e te tratar bem”. É por isso que qualquer mulher fica tão mal-humorada quando um candidato faz coisas como segurar pelo braço ou pelo cabelo. Ele deixa de ser um pretendente e se torna uma ameaça. Um homem que não merece o nome não vai querer renunciar à força física, porque acha que é só ela que garante sua hombridade (se for o caso, então melhor sair do armário de vez, beesha!), e que se não usá-la, não vai ter o respeito de mulher nenhuma. Já um cavalheiro sabe que só através da renúncia dessa força ele se prova um homem de verdade, quando permite que a fragilidade das mulheres não se torne uma desvantagem. Só assim os dois podem conversar de igual para igual.

quinta-feira, julho 19, 2007

Radical, Rebelde, Revolucionário

O que eu mais gostei no RRR é a total ausência de trilha sonora de violinos. Sabe, aquela música triste que a gente sempre ouve na parte dramática dos filmes? Em nenhum momento, nem os que descrevem os aspectos mais difíceis da vida dos mais maltratados dos cubanos, minha cabeça produziu a trilha dos violinos tristes.

Isso porque, mesmo que seja de certa maneira “um retrato verdadeiro e sem disfarces da vida cubana e do sofrido, porém digno e corajoso povo de Cuba”, eca!, o livro é divertido. Muito divertido. Mais ainda se você conhece o Alex e consegue imaginar ele se passando por cubano na fila da sorveteria, paquerando a bibliotecária ou - a melhor de todas - aplicando o “contrajineteio” (tem que ler para entender).

Claro, se você precisa conhecer o autor para aproveitar a obra, é sinal que o livro não é tão bom assim. Apesar do que eu acabei de dizer, RRR não tem esse problema. Ele vale pelo que é: o relato da viagem de uma pessoa inteligente, observadora, mundana e praticamente sem vergonha na cara para um lugar que já é especial por várias razões.

Ainda por cima, o livro está lindo. Sério mesmo, a edição ficou o máximo, cheia de fotos ótimas que o Alex tirou por lá e é muito confortável para ler na tela – isso porque eu não gosto de ler nada mais longo que um conto no computador. Recomendado.

Ultimo recado: quem estiver em São Paulo e não tiver programação para sábado agora, vai no lançamento, que vai ser legal. Aproveita e dá uma espiada no Virginia Berlin - Uma Experiência, do Biajoni (eu vou comprar) e no livro de crônicas do Alex, o LLL.

quarta-feira, julho 11, 2007

Won't you show me a little shame?

"Don't you think dreams and the Internet are similar? They are both areas where the repressed conscious mind vents. "

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Eu vi essa frase, saída desse filme aqui, e achei genial. Só que ao mesmo tempo é meio furada, pelo menos no meu caso. O superego do meu alter-ego virtual (se bem que é meio pretensão chamar de alter-ego essa parte de mim que escreve aqui e comenta no blog dos outros, mas ok) é muito maior do que o meu. Na internet, sou bem mais pudica e comportada que na vida real. Ó, só de confessar isso essa minha persona já fica constrangida e corada como uma heroína de Jane Austen. Eu, pobre de mim, já estou ficando incapaz de corar. Chego mesmo a sentir um certo alívio cada vez que alguma coisa que me deixa chocada ou com vergonha. É sinal que ainda não sou tão cínica assim, não sou uma completa Juliette, ufa.

quarta-feira, julho 04, 2007

A Cara do Personagem

Eu volta e meia encontro por aí os personagens dos livros que leio, exatamente como os imaginei. Não o próprio personagem, isso é absurdo, mas uma pessoa que fisicamente é o personagem, do jeitinho que o autor descreveu. Já aconteceu de encontrar alguns em estranhos na rua, mas como normalmente eu não descubro de cara, quase sempre acabo percebendo isso para valer em amigos e conhecidos, que eu posso observar mais.

Olha só: estudei na oitava série com uma garota que era exatamente como a Luísa do Primo Basílio seria com uns 13 ou 14 anos. Perdi contato, mas aposto que agora ela deve estar mais Luísa do que nunca. No colegial, Alba Trueba, da Casa dos Espíritos, era da minha sala (sem cabelo verde, claro). Ainda da Casa dos Espíritos, uma amiga da minha irmã era a cara da Pancha García – um pouco covardia, porque ela era filha de chilenos. O guarda-caça Mellors, de O Amante de Lady Chatterley, fez faculdade comigo e pegou uns 80% das minhas amigas. A Zulmira, de O Cortiço, também estudou comigo e era evangélica. E uma das tias do meu pai para mim é a Miss Marple gordinha.

Ainda não encontrei, e gostaria muito, uma Daisy Buchanan (mas tem que ter a voz certa), Dorian Gray, Ford Prefekt, João da Ega e Ellen Olenska.

Eu mesma, não sei se sou um personagem. Nunca achei nenhum que fosse descrito de um jeito que eu pudesse me reconhecer. Um amigo meu me disse que eu tenho um ar de Capitu, mas não sei não. Será que alguém conseguiria se reconhecer numa descrição aleatória? Alguém já se reconheceu fisicamente no personagem de um livro?